Olhou para trás e viu que ninguém a mais a seguia. Nada mais a perseguia. Lembrou-se das surras que levava do pai. Certa vez até lhe quebrara um braço. Lembrou-se dos abusos do irmão. Quando chegava bêbado em casa e lhe levantava o vestido, pondo-se sobre ela e resfolegando feito um animal. Recordou-se da mãe. Boa criatura. Morreu no rio. Mas ela tinha certeza que a mãe não “havia morrido” e sim “fora morta” lá. Encontrou seu corpo boiando, de olhos abertos, e chorou. Chorou como nunca havia chorado antes, pois morrera a única pessoa em quem podia confiar. A única que amava. Deve ter passado meia hora lá em cima, parada, pensando nisso tudo. Não sabia as horas. Não sabia ler. Não sabia sorrir. Era tudo tão bonito ali que lhe faltava o ar. Abriu os braços. Sentia-se livre, embora não soubesse o que aquilo significava. O vento batia no seu rosto, cada vez mais rápido. Cabelos, vestido, tudo voava. E ela também. Até que, de repente, tudo parou. Uma porta se abriu. E uma luz, que quase a cegava, lhe iluminou o caminho.
domingo, 28 de junho de 2009
07/10/04
Olhou para trás e viu que ninguém a mais a seguia. Nada mais a perseguia. Lembrou-se das surras que levava do pai. Certa vez até lhe quebrara um braço. Lembrou-se dos abusos do irmão. Quando chegava bêbado em casa e lhe levantava o vestido, pondo-se sobre ela e resfolegando feito um animal. Recordou-se da mãe. Boa criatura. Morreu no rio. Mas ela tinha certeza que a mãe não “havia morrido” e sim “fora morta” lá. Encontrou seu corpo boiando, de olhos abertos, e chorou. Chorou como nunca havia chorado antes, pois morrera a única pessoa em quem podia confiar. A única que amava. Deve ter passado meia hora lá em cima, parada, pensando nisso tudo. Não sabia as horas. Não sabia ler. Não sabia sorrir. Era tudo tão bonito ali que lhe faltava o ar. Abriu os braços. Sentia-se livre, embora não soubesse o que aquilo significava. O vento batia no seu rosto, cada vez mais rápido. Cabelos, vestido, tudo voava. E ela também. Até que, de repente, tudo parou. Uma porta se abriu. E uma luz, que quase a cegava, lhe iluminou o caminho.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Nesta tarde eu estava só
Hoje me senti sozinha. Muito sozinha. Um compromisso surgiu no meio da tarde e eu não poderia faltar. Uma dissertação de mestrado chata. Antipatizei com o palestrante logo de cara porque soube previamente que ele havia destratado uma funcionária da instituição sem motivo aparente. Sentada na cadeira do anfiteatro e fingindo ouvir, entender e achar tudo muito interessante, senti meu pensamento divagar. Fiquei olhando pela janela e vendo os estudantes calouros que andavam sob o sol insuportável das 15h00. Lembrei-me de quando era uma deles, sorridente e presa naquele lindo sonho chamado faculdade. A sala com o ar condicionado e o vidro espelhado da janela só aumentavam a sensação de que eu estava vendo um filme do meu recente passado. Saí antes de a palestra ter fim. Foi a melhor coisa que fiz. Encontrei um amigo na cantina que não via há semanas, cujos podres guardo (e ele guarda os meus). Ele sorriu e estendeu a mão pra me cumprimentar, eu tasquei-lhe um abraço. Toda a monotonia, tédio, melancolia se desfez por cúmplices 40 minutos. Ele teve que voltar pra sua aula e eu pra minha tarde vazia. Ainda me restavam duas longas horas até minha aula começar, não compensava voltar pra casa. Lá faz um barulho dos infernos, estão reformando todos os apartamentos. Vou ao shopping, o tempo sempre passa mais rápido lá, as distrações são mais fáceis. Meu namorado costuma estudar à tarde por lá, quem sabe não o encontro?
“Alô, onde você tá?”
“Cheguei em casa agora, saí do shopping há pouco.”
Ligo pra alguns amigos, todos ocupados. Penso em ligar pra outros, na verdade um em particular, e desisto. Não devo incomodar ninguém. Compro uma fatia de torta de chocolate. Triptofano, sabe como é... Na mesa vejo o morango que vem em cima da torta e isso só aumenta minha solidão. Eu nunca como o morango, sempre dou a quem está comigo. E nesta tarde eu estava só. Na praça de alimentação as mesas têm de três a quatro cadeiras. Cinco mesas estão ocupadas com solitários como eu. Um coroa bonitão estuda em uma delas. Coroas bonitos estudando são muito atraentes, mas não me atrevo a olhar mais que seus pés, pernas cruzadas pra apoiar o livro. Outro cara faz contas. Estaria com um rombo no cartão? Um outro come salgados, de costas pra mim. Costas largas, será que é bonito? Uma mulher toma sopa. Olha pra mim de cima a baixo, como se houvesse algo errado. Deve haver mesmo. Instantaneamente aliso meus cabelos, arrumo a roupa, me encolho na cadeira e timidamente tiro mais um pedaço de torta. Escrevo este texto pra matar o tempo e conversar comigo mesma. Demoro 30 minutos pra terminar de comer a fatia da torta. Graças a Deus, faltam 30 minutos pra minha aula. É o tempo de pegar o ônibus e me livrar disso tudo.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Meme is my vice
Onde está seu celular? Na mesa logo atrás de mim.
E o namorado? Em casa, eu creio.
Cor do cabelo? Preto natural, embora as pessoas não creiam nisso.
O que mais gosta de fazer? Conversar com meus amigos (ao vivo, por msn, sinal de fumaça, whatever), dormir, ler, ouvir música, ver filmes/ ir ao cinema, devanear.
O que você sonhou na noite passada? Não lembro, embora costume lembrar.
Onde você está? Em casa, na sala.
Onde você gostaria de estar agora? Exatamente onde eu estou.
Onde você gostaria de estar em seis anos? Em algum lugar onde meu doutorado valesse muito a pena.
Onde você estava há seis anos? Em Assu-RN, no início do meu último ano de ensino médio. Tempo bom.
Onde você estava na noite passada? Em casa, né... Pra variar.
O que você não é? Carinhosa, escandalosa, anti-social.
O que você é? Indecisa, insegura, ansiosa.
Objeto do desejo? Um carro, um apartamento, váááááários cremes e livros, alguns sapatos e sutiãs.
O que vai comprar hoje? Provavelmente iogurte, hidratante pra o corpo e um tônico facial.
Qual sua última compra? Um Twix e um Serenata Ball pra comer vendo o filme do Wolverine.
A última coisa que você fez? Escrevi o texto abaixo.
O que você está usando? Calcinha, sutiã (sim, eu durmo com ele), baby doll, Havaianas e tiara (não, não durmo com ela).
Na TV? Por falta de TV a cabo (seriadoooooooos!!!): jornais, Caminho das Índias, Mais você, Vídeo Show e TV Globinho (pra ver a roupa que as apresentadoras estão usando).
Seu cachorro? Serão um duchshund e um yorkshire.
Seu computador? Um pc que comprei pq o Nabucodonosor decidiu queimar sua placa mãe e me abandonar.
Seu humor? No geral é bom.
Com saudades de alguém? De minha família e de amigos que estão longe.
Seu carro? Hã? Como? Qual?
Perfume que está usando? Flor da Maçã de dia e Sintonia feminino à noite, os dois da Natura.
Última coisa que comeu? Fatia de presunto e queijo pq n aguentei a fome da madrugada.
Fome de quê? De tempo cheio, mas de modo literal, de pastel.
Preguiça de… ? Sair de casa, me arrumar, acordar cedo...
Próxima coisa que pretende comprar? Tenho mesmo que decidir agora?
Seu verão? Infelizmente é sempre verão onde moro.
Ama alguém? Sim, alguéns.
Quando foi a última vez que deu uma gargalhada? Hoje de tarde, falando p*taria com meus amigos.
Quando chorou pela última vez? Ontem, vendo um vídeo sobre dia das mães que uma amiga me mandou.
Desilusão (ou falta de imaginação para um título)
“Vamos, ali tem uma mesa na área de fumantes”
“Não, já não fumo mais.”
“Jura? Nossa, que bom! Desde quando?”
“Desde que decidi parar e consegui.” – Sorriso orgulhoso no rosto.
Foi assim com os quilos a mais, com a mania de trocar a noite pelo dia, o descuido com a aparência, o desemprego. A cada dia ela se tornava a filha, irmã, amiga e namorada que todos desejavam. Não era mais alvo de críticas.
De modo algum havia comunicado sobre o novo emprego ou a mudança. Falaria tudo na volta, não havia decidido só comunicar os resultados e não os processos que levaram a estes? Depois de passar o dia inteiro fora, havia conseguido acertar a papelada na empresa e o aluguel da casa nova. Sala, cozinha americana, uma suíte, área de serviço. Pequeno, é verdade, mas o imóvel perfeito pra o início de uma vida a dois.
Nessa semana fora havia perdido dois aniversários: o de um amigo e o de namoro. Ligou pra o amigo, desejou tudo de bom e algo mais, falou que o presente dele estava guardado, ele ia adorar a camisa. Agora era a vez de ligar pra o namorado. Deixou por último, afinal a conversa ia se prolongar, e o que é melhor geralmente é deixado pra ser apreciado no final. Estava ansiosa, eram seis anos juntos, mas o coração ainda batia forte com as emoções e expectativas de vida nova misturadas.
“Alô?”
“Feliz aniversário!” – (Como assim ele disse alô? Ele sabe que sou eu que estou ligando, sabe da data de hoje, por que essa voz abatida?)
“Hã... ah... por quê?”
“Esqueceu?! Hoje fazemos seis anos! Tô morrendo de pena por não estarmos juntos, pra poder comemorar. Tenho tantas novidades da viagem que você nem sonha!” – (Como assim ele perguntou por quê? Ele esqueceu... Que decepção... Bom, não vamos deixar a peteca cair né?)
“Ah, sim...! Claro! É, pois é... Olha, foi até bom você ter ligado, eu tava pensando em você.”
“Ow... Que fofinho!” – (Ai, que ótimo! Menos mal, ele ia ligar. Ele não havia esquecido de todo.)
“Precisamos conversar.”
“...” – (Baque. Isso não é bom. Não dito nesse tom e somado com o início da conversa.)
“Não sei, precisamos conversar quando você chegar... sim?”
“Ok... Chego amanhã... Beijos...” – (...)
As mãos desligaram o telefone, mas a mente não estava ali. Ela ainda estava absorvendo toda a conversa. Deitou na cama e fitou o teto. As idéias giravam. Ele havia arrumado outra. Sim, claro. Só podia ser. Apesar de todo o esforço dela, ele arrumou uma garota melhor. Será que ele quer dar um tempo? Tirar férias. Dizem que é sempre bom volta e meia. Ou não? Ele quer acabar mesmo. Tipo... porque quer. Ficar só é mais interessante pra ele que ficar com ela. Não, esse nervosismo é à toa. Com certeza é outro assunto.
Despertou desse estado de torpor quando os primeiros raios de sol bateram no seu rosto. Amanheceu e ela não havia percebido, perdida em hipóteses. Já era hora de tomar banho, pegar as malas e voltar pra casa.
No táxi rumo ao aeroporto se flagrou pensando que nada tinha valido a pena. Que tinha sido uma boba. Que era mesmo um nada e que as mudanças foram em vão. A casa nova, o emprego novo, o peso saudável, saúde e boa aparência iam a cada semáforo perdendo a importância. Nada tinha valido a pena. Foi quando aceitou o cigarro que o motorista ofereceu e se pôs a pensar e pensar e pensar...