segunda-feira, 18 de maio de 2009

Nesta tarde eu estava só

Hoje me senti sozinha. Muito sozinha. Um compromisso surgiu no meio da tarde e eu não poderia faltar. Uma dissertação de mestrado chata. Antipatizei com o palestrante logo de cara porque soube previamente que ele havia destratado uma funcionária da instituição sem motivo aparente. Sentada na cadeira do anfiteatro e fingindo ouvir, entender e achar tudo muito interessante, senti meu pensamento divagar. Fiquei olhando pela janela e vendo os estudantes calouros que andavam sob o sol insuportável das 15h00. Lembrei-me de quando era uma deles, sorridente e presa naquele lindo sonho chamado faculdade. A sala com o ar condicionado e o vidro espelhado da janela só aumentavam a sensação de que eu estava vendo um filme do meu recente passado. Saí antes de a palestra ter fim. Foi a melhor coisa que fiz. Encontrei um amigo na cantina que não via há semanas, cujos podres guardo (e ele guarda os meus). Ele sorriu e estendeu a mão pra me cumprimentar, eu tasquei-lhe um abraço. Toda a monotonia, tédio, melancolia se desfez por cúmplices 40 minutos. Ele teve que voltar pra sua aula e eu pra minha tarde vazia. Ainda me restavam duas longas horas até minha aula começar, não compensava voltar pra casa. Lá faz um barulho dos infernos, estão reformando todos os apartamentos. Vou ao shopping, o tempo sempre passa mais rápido lá, as distrações são mais fáceis. Meu namorado costuma estudar à tarde por lá, quem sabe não o encontro?

“Alô, onde você tá?”

“Cheguei em casa agora, saí do shopping há pouco.”

Ligo pra alguns amigos, todos ocupados. Penso em ligar pra outros, na verdade um em particular, e desisto. Não devo incomodar ninguém. Compro uma fatia de torta de chocolate. Triptofano, sabe como é... Na mesa vejo o morango que vem em cima da torta e isso só aumenta minha solidão. Eu nunca como o morango, sempre dou a quem está comigo. E nesta tarde eu estava só. Na praça de alimentação as mesas têm de três a quatro cadeiras. Cinco mesas estão ocupadas com solitários como eu. Um coroa bonitão estuda em uma delas. Coroas bonitos estudando são muito atraentes, mas não me atrevo a olhar mais que seus pés, pernas cruzadas pra apoiar o livro. Outro cara faz contas. Estaria com um rombo no cartão? Um outro come salgados, de costas pra mim. Costas largas, será que é bonito? Uma mulher toma sopa. Olha pra mim de cima a baixo, como se houvesse algo errado. Deve haver mesmo. Instantaneamente aliso meus cabelos, arrumo a roupa, me encolho na cadeira e timidamente tiro mais um pedaço de torta. Escrevo este texto pra matar o tempo e conversar comigo mesma. Demoro 30 minutos pra terminar de comer a fatia da torta. Graças a Deus, faltam 30 minutos pra minha aula. É o tempo de pegar o ônibus e me livrar disso tudo.

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